domingo, 18 de abril de 2010

Hegel


Georg Wilhelm Friedrich Hegel, o último filósofo clássico famoso, autor de um esquema dialético no qual o que existe de lógico, natural, humano, e divino, oscila perpetuamente de uma tese para uma antítese, e de volta para uma síntese mais rica.

Hegel nasceu em Stuttgart, a 27 de agosto de 1770, e faleceu a 14 de novembro de 1831, em Berlim. Estudou gramática até aos 18 anos. Enquanto estudante, fez uma vasta coleção de extratos de autores clássicos, artigos de jornal, trechos de manuais e tratados usados na época. Esse colossal fichário, ordenado alfabeticamente, lhe foi útil toda a vida.

Entrou para o seminário de Tübingen em 1788 e de lá saiu em 1793. Entre seus colegas estava Friedrich Wilhelm Joseph von Schelling, mais novo que ele cinco anos e o poeta Johann Christian Friedrich Hölderlin.

Deixando o seminário, Hegel não trabalhou como pastor, mas como tutor particular em Berna, por três anos. Nesse período escreveu alguns trabalhos que só seriam publicados depois de sua morte reunidos sob o título Hegel theologische jugendschriften (1907).

Em um desses trabalhos investiga porque a ortodoxia impunha um sistema de normas arbitrário, sob a alegação de que eram normas reveladas, quando Cristo, ao contrário, havia ensinado uma moralidade racional, uma religião que, diferente do Judaísmo, estava adaptada à razão dos homens. Escreveu sobre o assunto dois ensaios: uma vida de Jesus e outro sobre como o cristianismo havia se tornado uma religião autoritária, se o ensinamento de Cristo não era autoritário mas racionalista.

Em 1796 mudou-se para Frankfurt onde estava o amigo Hölderlin que ali arranjou-lhe uma tutoria. O amigo entrou em umas complicações amorosas e ficou louco, o que deixou Hegel profundamente deprimido. Para curar-se, entregou-se com afinco ao trabalho de engrossar seu fichário fazendo resumos não apenas das obras filosóficas, de história e política, mas inclusive de artigos dos jornais ingleses.

Como pastor, os problemas religiosos do cristianismo são sua principal preocupação. Atacou sempre a ortodoxia, não a doutrina propriamente. Acreditava na doutrina do Espírito Santo. Para ele, o espírito do homem, sua razão, são uma vela do Senhor. Essa fé de base religiosa na Razão é o fundamento de todo o trabalho de Hegel.

Em 1798 reexaminou os ensaios escritos em Berna e escreveu Der Geist des Christentums und sei Schicksal (O espírito do cristianismo e seu destino, fado) que também somente foi publicado postumamente em 1907. Este é um dos trabalhos mais importantes de Hegel. Mas seu estilo é difícil e a conexão entre as idéias nem sempre é clara. Neste trabalho, Hegel mostra que os Judeus eram escravos da Lei de Moisés, vivendo uma vida sem amor em comparação com a dos gregos antigos. Jesus ensinou algo inteiramente diferente. O homem não deve ser escravo de comandos objetivos: a lei é feita para o homem, porém fica acima da tensão da experiência moral entre a razão e a inclinação porque a lei é para ser cumprida com amor a Deus.

O Reino, no entanto, não pode realizar-se neste mundo: o homem não é somente espírito mas também carne. Igreja e Estado, adoração e vida, piedade e virtude, ação espiritual e mundana nunca podem se dissolver em uma coisa só. É a partir desse pensamento religioso que começa a aparecer sua idéia de uma síntese de pólos opostos, no amor, - um pré-figuramento do espírito como a unidade na qual as contradições, tais como infinito e o finito, são abraçadas e sintetizadas. As contradições do pensamento no nível científico são inevitáveis mas o pensamento como uma atividade do espírito ou "razão" pode elevar-se acima delas para uma síntese na qual as contradições são resolvidas. Este pensamento, escrito em textos religiosos, está nos manuscritos de Hegel do final de sua estada em Frankfurt.

Recursos deixados por seu pai, falecido em 1799, permitiram que Hegel deixasse Frankfurt em 1801 e fosse concorrer para docente privado (ganhando de acordo com o número de alunos) na Universidade de Jena onde Schelling, então com apenas 26 anos, era professor. Porém, os grandes mestres de Jena, Johann Gottlieb Fichte, os irmãos August Wilhelm von Schlegel (1767-1845), literato, tradutor de Shakespeare, e Friedrich von Schlegel (1772-1829), lingüista e crítico literário, já haviam saído de lá.

Inicialmente amigo de Schelling, Hegel escreveu favoravelmente à sua filosofia da natureza o ensaio Differenz des Fichte'schen und Schelling'schen Systems der Philosophie (1801). Mas suas marcantes diferenças e os problemas pessoais de Schelling acabaram por afastar Schelling de Jena, em 1803, de modo a dominar a filosofia de Hegel inteiramente de então em diante. Conseguiu, com a intervenção de Goethe, ser nomeado professor extraordinário da universidade mas não era ainda popular e somente recebeu seu primeiro rendimento significativo um ano depois, em 1806.

Hegel gostou quando em 1806 Napoleão submeteu a Prússia, que ele considerava governada por uma burocracia corrupta.

Em 1807 publicou seu célebre livro: Phänomenologie des Geistes em que explica, para muito poucos entendedores, como a mente humana originou-se de uma mera consciência, passando por uma autoconsciência, razão, espírito e religião para alcançar o conhecimento absoluto.

Para melhorar seus recursos Hegel tornou-se editor do jornal Bamberger Zeitung (1907-1808) e depois ocupou a direção de um ginásio em Nürberg (1808-1816).

Em 1811 casou com Marie von Tucher, mais nova que ele 22 anos, de Nürberg com quem teve dois filhos Karl, que tornou-se um eminente historiador, e Immanuel, teólogo. Juntou-se à família Ludwig, filho natural que trouxe de Jena.

Em Nürberg em 1812 publicou Die objektive Logik, primeira parte do seu Wissenschaft der Logik (Ciência da Lógica) e em 1816 a segunda parte, Die Subjektive Logik. A repercussão de sua lógica motivou o convite para lecionar em Erlangen, Berlim e Heidelberg. Ele aceitou esta última. Para suas aulas em Heidelberg publicou em 1817 Encyklopädie der philosophischen Wissenschaften im Grundrisse (Enciclopédia das ciências filosóficas em resumo), que era na verdade a exposição de suas idéias.

Em 1818 Hegel aceitou o convite renovado para lecionar filosofia em Berlim, na cadeira vaga com a morte de Fichte. Lá sua influência sobre seus alunos foi imensa.

Quando Schopenhauer obteve um lugar na mesma Universidade, começou uma competição com Hegel pelos alunos que pagariam os seus salário. Os estudantes preferiam as aulas de Hegel. Schopenhauer conseguiu apenas uns poucos e teve que desistir, e a partir de então combateu implacavelmente Hegel Schelling e Fichte, chamando-os fanfarrões e charlatães, e atacou os professores de filosofia em geral no seu ensaio "Sobre a filosofia na universidade".

Em Berlim Hegel publicou seu Naturrecht und Staatswissenschaft im Grundrisse (Fundamentos do Direito natural e da Ciência política) também intitulado Grundlinien der Philosophie des Rechts ("Filosofia do Direito"), de 1821. Em 1830 Hegel tornou-se Reitor da universidade. A revolução deste ano quase o fez adoecer de medo do povo assumir o governo.

Após a publicação do "Filosofia do Direito", Hegel devotou-se quase exclusivamente a suas aulas (1823-1827). O que foi publicado desse período são principalmente notas dos seus estudantes. Versam principalmente três áreas: estética, filosofia da história e filosofia da religião.

Nos anos que precederam a revolução de 1830 houve um florescimento nas artes na Alemanha, e Hegel copiava notas dos jornais, o que lhe permitia fazer suas aulas sobre estética mais interessantes. Em suas aulas sobre filosofia da religião tentou mostrar que o credo dogmático é o desenvolvimento racional do que está implícito no sentimento religioso.

No verão de 1831 Hegel buscou refúgio nas vizinhanças da cidade, contra uma epidemia do cólera. Durante esse retiro terminou a revisão da primeira parte do "Ciência da Lógica". Porém, ao retornar para o período acadêmico do inverno, contraiu a doença e morreu a 14 de novembro daquele ano. Foi enterrado como pediu, ao lado de Fichte.


O Sentido do Espírito

Para conhecer bem os factos e enxergá-los no seu verdadeiro lugar, deve-se estar no cume - não os considerar de baixo pelo buraco da fechadura da moralidade ou de alguma outra sabedoria.
(...) O ponto de vista geral da história filosófica não é abstractamente geral, mas concreto e eminentemente actual, porque é o Espírito que permanece eternamente junto de si mesmo e ignora o passado. À semelhança de Mercúrio, o condutor das almas, a Ideia é na verdade o que conduz os povos e o mundo, e é o Espírito, a sua vontade razoável e necessária, que orientou e continua a orientar os acontecimentos do mundo.

Georg Hegel, in 'Curso de 1822'

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