domingo, 18 de abril de 2010

Reserva Pitaguary

Área de 1.735 hetares - para cerca de 1.500 índios



Pitaguary



Cultura



Pajé



Cultura



Artesanato

Pobre e iletrado, o pai de Chico Mendes ganhava a vida extraindo látex das seringueiras na floresta amazônica. Aos nove anos, o garoto Francisco Alves Mendes Filho também entrou para a profissão de seringueiro: era sua única opção, já que lhe foi negada a oportunidade de estudar. Até 1970, os donos da terra nos seringais não permitiam a existência de escolas. Chico só foi aprender a ler aos 20 anos de idade.

Indignado com as condições de vida dos trabalhadores e dos moradores da região amazônica, tornou-se um líder do movimento de resistência pacífica. Defensor da floresta e dos direitos dos seringueiros, ele organizou os trabalhadores para protegerem o ambiente, suas casas e famílias contra a violência e a destruição dos fazendeiros, ganhando apoio internacional.

Fundou o movimento sindical no Acre em 1975, com o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasiléia. Participando ativamente das lutas dos seringueiros para impedir desmatamentos, montou o Conselho Nacional de Seringueiros, uma organização não-governamental criada para defender as condições de vida e trabalho das comunidades que dependem da floresta.

Chico Mendes também atuou na luta pela posse da terra contra os grandes proprietários, algo impossível de se pensar na região amazônica até os dias de hoje. Dessa forma, entrou em conflito com os donos de madeireiras, de seringais e de fazendas de gado.

Participou da fundação do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri, em 1977, e foi eleito vereador para a Câmara Municipal local, pelo MDB, único partido de oposição permitido pela ditadura militar que governava o país (1964-1985). Nessa época, Chico sofreu as primeiras ameaças de morte por parte dos fazendeiros. Ao mesmo tempo, começou a enfrentar vários problemas com seu próprio partido: o MDB não era solidário às suas lutas.

Em 1979, o vereador Chico Mendes lotou a Câmara Municipal com debates entre lideranças sindicais, populares e religiosas. Lembre-se: era tempo de ditadura militar. Foi acusado de subversão e passou por interrogatórios nada suaves. Foi torturado secretamente e, como estava sozinho nessa luta, não podia denunciar o fato, ou seria morto.

Foi assim, em busca de sustentação política, que decidiu ajudar a criar o Partido dos Trabalhadores (PT), tornando-se seu dirigente no Acre. Um ano depois de ser torturado, foi enquadrado na Lei de Segurança Nacional, acusado de ter participado da morte de um fazendeiro na região que assassinara o presidente do Sindicato dos Trabalhadores de Brasiléia.

Em 1982, tornou-se presidente do Sindicato dos Trabalhadores de Xapuri e foi acusado de incitar posseiros à violência, mas foi absolvido por falta de provas.

Quando liderou o Encontro Nacional dos Seringueiros, em 1985, a luta dos seringueiros começou a ganhar repercussão nacional e internacional. Sua proposta de "União dos Povos da Floresta", apresentada na ocasião, pretendia unir os interesses de índios e seringueiros em defesa da floresta amazônica. Seu projeto incluía a criação de reservas extrativistas para preservar as áreas indígenas e a floresta, e a garantia de reforma agrária para beneficiar os seringueiros.

Transformado em símbolo da luta para defender a Amazônia e os povos da floresta, Chico Mendes recebeu a visita de membros da Unep (órgão do meio ambiente ligado à "Organização das Nações Unidas), em Xapuri, em 1987. Lá, os inspetores viram a devastação da floresta e a expulsão dos seringueiros, tudo feito com dinheiro de projetos financiados por bancos internacionais.

Logo em seguida, o ambientalista e líder sindical foi convidado a fazer essas denúncias no Congresso norte-americano. O resultado dessa viagem a Washington foi imediato: em um mês, os financiamentos aos projetos de destruição da floresta foram suspensos. Chico foi acusado na imprensa por fazendeiros e políticos de prejudicar o "progresso do Estado do Acre".

Em contrapartida, recebeu vários prêmios e homenagens no Brasil e no mundo, como uma das pessoas de mais destaque na defesa da ecologia.

Casado com Ilzamar e pai de Sandino e Elenira, Chico realizaria alguns de seus sonhos, ao assistir à criação das primeiras reservas extrativistas no Acre. Também conseguiu a desapropriação do Seringal Cachoeira, de Darly Alves da Silva, em Xapuri. Foi quando as ameaças de morte se tornaram mais frequentes: Chico denunciou o fato às autoridades, deu nomes e pediu proteção policial. Nada conseguiu.

Pouco mais de um ano após sua ida ao Senado dos Estados Unidos, o ativista acabava de completar 44 anos quando foi assassinado na porta de sua casa. Em 1990, o fazendeiro Darly Alves da Silva e seu filho, Derli, foram julgados e condenados a 19 anos de prisão, pela morte de Chico Mendes.

Em dezembro de 2008, vinte anos depois de sua morte, por decisão do Ministério da Justiça, publicada no Diário Oficial da União de 11 de fevereiro de 2009, Chico Mendes foi anistiado em todos os processos de subversão que corriam contra ele, e sua viúva Ilzamar Mendes teve direito a indenização. Na ocasião, o ministro da Justiça, Tarso Genro, declarou: "Chico Mendes era um homem à frente de seu tempo, um homem que construiu um amplo processo civilizatório. Hoje, o estado está pedindo desculpas pelo que fez com ele. Chico Mendes foi importante para o Acre e para o Brasil."

Protocolo de Maracanaú

Tem como objetivo desenvolver ações de proteção ao clima e à biodiversidade, intervir no processo de degradação ambiental e promover a sustentabilidade sócioambiental.

O Protocolo é um instrumento de efetivação da Agenda 21 Local, que expressa o novo modelo de desenvolvimento para o século XXI, com a finalidade de compor as peças da engrenagem do desenvolvimento sustentável e da inclusão sócioambiental, com a participação de cada cidadão Maracanauense.

O Protocolo de Maracanaú pretende sensibilizar toda a população do Município, para que cada cidadão faça a sua parte, para preservar o meio ambiente de Maracanaú. Para isso, toda a rede de Ensino Público está recebendo mudas para adoção e cada indústria instalada no Município, será convidada a assinar o Protocolo, sendo certificada por cada parcela de gases de efeito estufa (GEEs), que deixarem de emitir ou seqüestrarem.

Público alvo:
Sociedade Civil, Iniciativa Privada, Escolas da Rede de Ensino Público e População em geral.

Meta:
Distribuir e plantar até 2012, 500 mil mudas de árvores em Maracanaú.

Atividades desenvolvidas pelo Protocolo:
cadastramento e distribuição de mudas nas Escolas da Rede de Ensino Público e população; criação de viveiros comunitários.

Como participar:
Cada cidadão poderá contribuir para a transformação de Maracanaú na cidade mais verde do Brasil dentro da sua possibilidade e interesse. Contribuindo com o financiamento de uma, de mil ou de apenas uma fração do custo de uma muda plantada, o cidadão ou a instituição parceira receberá um Certificado de Participação, registrando quanto cada um contribuiu para a melhoria do clima e do ar da nossa cidade.

Veja abaixo o descritivo completo do programa:


“As mudanças climáticas representam, talvez, o maior desafio ambiental que nossa espécie já encontrou e o que mais ameaça nossa sobrevivência neste planeta em curto prazo”

(Carlos Klink, Instituto Internacional de Educação do Brasil, IEB)

APRESENTAÇÃO

Maracanaú é registrado no Primeiro e Segundo Mapa de Áreas Prioritárias da Mata Atlântica do Ministério do Meio Ambiente (MMA) e Relatório Nacional Para a Conservação da Biodiversidade, publicado em 2004, também pelo MMA, como a área extremamente alta para preservação da Mata Atlântica(¹). Maracanaú possui espécies endêmicas e de ocorrência rara de fauna e flora dos biomas Caatinga e Mata Atlântica, por outro lado, historicamente, vem sofrendo uma série de ações antrópicas que muito têm prejudicado a preservação e a conservação destes recursos naturais e o desenvolvimento humano da sua população.

Um marco histórico deste processo de degradação foi a exploração das minas de prata do Monte Itarema (atual Serra da Mucunã) por desbravador holandês Mathias Beck, durante as expedições das Companhias das Índias Ocidentais, ainda no século XVI(²).

Outro marco de referência neste processo de degradação foi à instalação dos distritos industriais, a partir das décadas de sessenta e setenta do século passado(³).

O inchaço urbano sofrido por Maracanaú paralelo ao desenvolvimento industrial, notoriamente com a construção dos Conjuntos habitacionais, onde o Conjunto Jereissati foi considerado o maior da América Latina. A exclusão social de parte da população tem acentuado o uso e a ocupação desordenada do solo, criado áreas de risco e habitações precárias nas margens dos rios e das lagoas da cidade.

O crescimento populacional é outro fator preocupante para a sustentabilidade de Maracanaú. A nossa população que na data da sua emancipação política (1983) contava com menos de trinta mil pessoas, passados apenas 25 anos, já soma mais de duzentos mil habitantes. Para, apenas, um território de oitenta e dois quilômetros quadrados.

Todos estes fatores interagem causando importantes seqüelas no tecido social, desenhando um cenário que necessita urgentes intervenções para a minimização dos seus efeitos.
O PLANO MUNICIPAL DE AÇÕES CLIMÁTICAS - Protocolo de Maracanaú é um programa de governo que tem o objetivo de desenvolver duas ações, que possibilitem intervir de forma positiva nesta realidade, buscando a melhoria da qualidade de vida da população maracanauense e solidificar as bases rumo à construção de uma sociedade verdadeiramente sustentável e a mitigação dos efeitos das mudanças climáticas e do aquecimento global. A saber:

• Estruturação da Política Municipal de Mudanças Climáticas.
• Desenvolvimento do Projeto de Arborização de Maracanaú.

Estas duas ações estarão divididas em objetivos específicos, conforme a necessidade de cada temática.

Ações e Objetivos Específicos previstos para o desenvolvimento do Plano são:

Ação 1.0 - Estruturação da Política Municipal de Mudanças Climáticas.

A3P


A Agenda Ambiental na Administração Pública – A3P - é um programa que visa implementar a gestão socioambiental sustentável das atividades administrativas e operacionais do Governo. A A3P tem como princípios a inserção dos critérios ambientais; que vão desde uma mudança nos investimentos, compras e contratação de serviços pelo governo; até uma gestão adequada dos resíduos gerados e dos recursos naturais utilizados tendo como principal objetivo a melhoria na qualidade de vida no ambiente de trabalho.

A A3P é uma decisão voluntária respondendo à compreensão de que o Governo Federal possui um papel estratégico na revisão dos padrões de produção e consumo e na adoção de novos referenciais em busca da sustentabilidade socioambiental. O programa tem como diretriz a sensibilização dos gestores públicos para as questões socioambientais, estimulando-os a a incorporar princípios e critérios de gestão ambiental nas atividades administrativas, por meio da adoção de ações que promovam o uso racional dos recursos naturais e dos bens públicos, o manejo adequado e a diminuição do volume de resíduos gerados, ações de licitação sustentável/compras verdes e ainda ao processo de formação continuada dos servidores públicos.

A Agenda se fundamenta nas recomendações do Capítulo IV da Agenda 21 que indica aos países o “estabelecimento de programas voltados ao exame dos padrões insustentáveis de produção e consumo e o desenvolvimento de políticas e estratégias nacionais de estímulo a mudanças nos padrões insustentáveis de consumo”; no Princípio 8 da Declaração do Rio/92 que afirma que “os Estados devem reduzir e eliminar padrões insustentáveis de produção e consumo e promover políticas demográficas adequadas”; e ainda na Declaração de Johannesburgo que institui a "adoção do consumo sustentável como princípio basilar do desenvolvimento sustentável".

A A3P é um convite ao engajamento individual e coletivo para a mudança de hábitos e a difusão da ação. Nesse sentido, convidamos você a repensar a sua atuação pessoal e profissional, visando à construção de uma nova cultura institucional.

Escola Frankfurt


O que é a Escola de Frankfurt

Um Traçado Histórico

Em novembro de 1918, pro clamou-se a república em um país até então dominado pela família dos Hohenzollern, cujo poder se ampliou desde sua constituição no século XII, na Prússia, até o século XX e que conduziu à unificação dos principiados independentes, formando um Estado nacional. Foi Bismarck quem, em 1871, consolidou o Estado alemão sob a hegemonia da Prússia, o que significava predominância do militarismo e da burocracia. A Alemanha, portanto, tornou-se à imagem e semelhança do Reino da Púrssia. No início do século XX a Alemanha assistiu a duas insurreições operárias: a de novembro de 1918 - que proclamou a república e depôs os Hohenzollern - e a de 1923, levante dos operários de Bremen, sufocados pelo Partido Socialista Alemão, que, na ocasião, era governo. A sociedade alemã foi seriamente abalada por esses movimentos.

Fundação da Escola de Frankfurt

A Escola de Frankfurt foi fundada em 1924 por iniciativa de Félix Weil, filho de um grande negociante de grãos de trigo na Argentina. Antes dessa denominação tardia (só viria a ser adotada, e com reservas, por Horkheimer na década de 1950), cogitou-se o nome Instituto para o Marxismo, mas optou-se por Instituto para a Pesquisa Social. Seja pelo anticomunismo reinante nos meios acadêmicos alemães nos anos 1920-1939, seja pelo fato de seus colaboradores não adotarem o espírito e a letra do pensamento de Marx e do marxismo da época, o Instituto recém-fundado preenchia uma lacuna existente na universidade alemã quanto à história do movimento trabalhista e do socialismo. Carl Grünberg, economista austríaco, foi seu primeiro diretor, de 1923 a 1930. O órgão do Instituto era a publicação chamada Arquivos Grünberg. Horkheimer, a partir de 1931, já com título acadêmico, pôde exercer a função de diretor do Instituto, que se associava à Universidade de Frankfurt. O órgão oficial dessa gestão passou a ser a Revista para a Pesquisa Social, com uma modificação importante: a hegemonia era não mais da economia, e sim da filosofia. A Teoria Crítica realiza uma incorporação do pensamento de filósofos "tradicionais", colocando-os em tensão com o mundo presente.

Principais Filósofos da Escola de Frankfurt

Max Horkheimer

Max Horkheimer nasceu em 1885, Stuttgard, e faleceu em 1973. Como todos os intelectuais da Escola de Frankfurt, era judeu de origem, filho de um industrial - Mortitz Horkheimer -, e ele próprio estava destinado a dar continuidade aos negócios paternos. Por intermédio de seu amigo Pollock, Horheimer associou-se em 1923 à criação do Instituto para a Pesquisa Social, do qual foi diretor, em 1931 sucedendo o historiador austríaco Carl Grünberg.

Theodor Adorno

Theodor Wiesengrund Adorno nasceu em 1903 em Frankfurt, filho de pai alemão - um próspero negociante de vinhos, judeu assimilado - e mãe italiana. Cedo em sua vida intelectual, descobriu a obra de Kant por intermédio de seu amigo Kracauer, especialista em sociologia do conhecimento, que viria a se notabilizar com a publicação da obra De Caligari a Hitler, sobre as relações entre o cinema e o nazismo. Adorno vinha de um meio de musicistas e amantes de músicas e logo se orientou para a estética musical. Com o fim da Guerra, Adorno é um dos que mais desejam o retorno a Frankfurt, tornando-se diretor-adjunto do Instituto Para Pesquisa Social e seu co-diretor em 1955, com a aposentadoria de Horkheimer, Adorno torna-se o novo diretor.

Herbert Marcuse

Herbert Marcuse nasceu em Berlim numa família de judeus assimilados. Foi membro do Partido Sicial-Democráta Alemão entre 1917 e 1918, tendo participado de um Conselho de Soldados durante a revolução berlinence de 1919, na seqüência da qual deixou o partido. Estudou filosofia em Berlim e Freiburg, onde conheceu os filósofos e professores de filosofia Husserl e Heidegger e se doutorou com a tese "Romance de artista".

Manfredo de Oliveira


Nascido em 1841, em Limoeiro do Norte, o padre e filósofo Manfredo Araújo de Oliveira é um dos mais respeitados intelectuais brasileiros. Professor e coordenador do mestrado em Filosofia da Universidade Federal do Ceará, é mestre em Teologia pela Universidade Gregoriana de Roma, Itália, e doutor em Filosofia pela Universidade Ludwig-Maximilian de Munique, Alemanha.

Pelo menos desde 1973, vem construindo uma bibliografia sobre diversas áreas de interesse, tendo por fio condutor a filosofia e seus olhares contemporâneos sobre questões como ética, religião, economia, história, lingüística e, de modo particular, sobre a dialética e a modernidade, sua crise e sua superação. Permeando todos esses temas, as eternas dúvidas inerentes à condição humana, nas perguntas que alicerçam o conceito ocidental de ética como instrumento da liberdade: quem somos? Para onde vamos? Qual o sentido da existência? E que sentido devemos, nós mesmos, procurar imprimir a ela?

De dois anos para cá, Manfredo se vem debruçando sobre a novíssima corrente dos chamados “filósofos pós-analistas”, nos Estados Unidos. “Está emergindo toda uma outra forma de pensamento, completamente desconhecida ainda por nós. Nas últimas décadas, eles levantaram questões como a metafísica, que um europeu jamais levantaria, porque as consideraria superadas”, revela. “Eu, de formação basicamente européia, estou ainda espantado. Me deparei com uma linha de pensamento inteiramente nova, que saiu da filosofia contemporânea, mas enveredou por caminhos que eu jamais poderia imaginar, a partir do pressuposto de que a base de toda e qualquer questão é a linguagem. Mas a linguagem não como uma estrutura ideológica, e sim, acima de tudo, como uma prática social”, entusiasma-se. “Eu ainda estou assim como quem levou uma paulada na cabeça...”, ri-se, ante o impacto da “descoberta”.

Contabilizando mais de uma dezena de títulos acadêmicos - e mais de 40 em co-autoria -, Manfredo Oliveira foi um dos palestrantes do III Simpósio Internacional sobre Padre Cícero, promovido pela Universidade Regional do Cariri (Urca) e pela Diocese do Crato e encerrado no último dia 22, em Juazeiro do Norte. Confessando-se “pouco à vontade” para participar de debates costumeiramente permeados por uma imersão intensa no contexto “cicerófilo”, Manfredo procurou deslocar o eixo das discussões.

“A questão fundamental não é a da reconciliação entre a Igreja e Padre Cícero (o religioso Cícero Romão Batista morreu em 1934, suspenso de ordens pela autoridade eclesiástica). O interesse é no próprio povo, em sua forma de viver a religião, através de uma figura da religiosidade popular, como Padre Cícero. Como é que a Igreja vai responder a essa nova forma de evangelização?”, questionou, sem deixar de ressaltar certo espanto com o fato de “em plena sociedade pós-moderna, cansada do projeto da modernidade, o fenômeno da religião brotar novamente, com uma força incrível”.

Hegel


Georg Wilhelm Friedrich Hegel, o último filósofo clássico famoso, autor de um esquema dialético no qual o que existe de lógico, natural, humano, e divino, oscila perpetuamente de uma tese para uma antítese, e de volta para uma síntese mais rica.

Hegel nasceu em Stuttgart, a 27 de agosto de 1770, e faleceu a 14 de novembro de 1831, em Berlim. Estudou gramática até aos 18 anos. Enquanto estudante, fez uma vasta coleção de extratos de autores clássicos, artigos de jornal, trechos de manuais e tratados usados na época. Esse colossal fichário, ordenado alfabeticamente, lhe foi útil toda a vida.

Entrou para o seminário de Tübingen em 1788 e de lá saiu em 1793. Entre seus colegas estava Friedrich Wilhelm Joseph von Schelling, mais novo que ele cinco anos e o poeta Johann Christian Friedrich Hölderlin.

Deixando o seminário, Hegel não trabalhou como pastor, mas como tutor particular em Berna, por três anos. Nesse período escreveu alguns trabalhos que só seriam publicados depois de sua morte reunidos sob o título Hegel theologische jugendschriften (1907).

Em um desses trabalhos investiga porque a ortodoxia impunha um sistema de normas arbitrário, sob a alegação de que eram normas reveladas, quando Cristo, ao contrário, havia ensinado uma moralidade racional, uma religião que, diferente do Judaísmo, estava adaptada à razão dos homens. Escreveu sobre o assunto dois ensaios: uma vida de Jesus e outro sobre como o cristianismo havia se tornado uma religião autoritária, se o ensinamento de Cristo não era autoritário mas racionalista.

Em 1796 mudou-se para Frankfurt onde estava o amigo Hölderlin que ali arranjou-lhe uma tutoria. O amigo entrou em umas complicações amorosas e ficou louco, o que deixou Hegel profundamente deprimido. Para curar-se, entregou-se com afinco ao trabalho de engrossar seu fichário fazendo resumos não apenas das obras filosóficas, de história e política, mas inclusive de artigos dos jornais ingleses.

Como pastor, os problemas religiosos do cristianismo são sua principal preocupação. Atacou sempre a ortodoxia, não a doutrina propriamente. Acreditava na doutrina do Espírito Santo. Para ele, o espírito do homem, sua razão, são uma vela do Senhor. Essa fé de base religiosa na Razão é o fundamento de todo o trabalho de Hegel.

Em 1798 reexaminou os ensaios escritos em Berna e escreveu Der Geist des Christentums und sei Schicksal (O espírito do cristianismo e seu destino, fado) que também somente foi publicado postumamente em 1907. Este é um dos trabalhos mais importantes de Hegel. Mas seu estilo é difícil e a conexão entre as idéias nem sempre é clara. Neste trabalho, Hegel mostra que os Judeus eram escravos da Lei de Moisés, vivendo uma vida sem amor em comparação com a dos gregos antigos. Jesus ensinou algo inteiramente diferente. O homem não deve ser escravo de comandos objetivos: a lei é feita para o homem, porém fica acima da tensão da experiência moral entre a razão e a inclinação porque a lei é para ser cumprida com amor a Deus.

O Reino, no entanto, não pode realizar-se neste mundo: o homem não é somente espírito mas também carne. Igreja e Estado, adoração e vida, piedade e virtude, ação espiritual e mundana nunca podem se dissolver em uma coisa só. É a partir desse pensamento religioso que começa a aparecer sua idéia de uma síntese de pólos opostos, no amor, - um pré-figuramento do espírito como a unidade na qual as contradições, tais como infinito e o finito, são abraçadas e sintetizadas. As contradições do pensamento no nível científico são inevitáveis mas o pensamento como uma atividade do espírito ou "razão" pode elevar-se acima delas para uma síntese na qual as contradições são resolvidas. Este pensamento, escrito em textos religiosos, está nos manuscritos de Hegel do final de sua estada em Frankfurt.

Recursos deixados por seu pai, falecido em 1799, permitiram que Hegel deixasse Frankfurt em 1801 e fosse concorrer para docente privado (ganhando de acordo com o número de alunos) na Universidade de Jena onde Schelling, então com apenas 26 anos, era professor. Porém, os grandes mestres de Jena, Johann Gottlieb Fichte, os irmãos August Wilhelm von Schlegel (1767-1845), literato, tradutor de Shakespeare, e Friedrich von Schlegel (1772-1829), lingüista e crítico literário, já haviam saído de lá.

Inicialmente amigo de Schelling, Hegel escreveu favoravelmente à sua filosofia da natureza o ensaio Differenz des Fichte'schen und Schelling'schen Systems der Philosophie (1801). Mas suas marcantes diferenças e os problemas pessoais de Schelling acabaram por afastar Schelling de Jena, em 1803, de modo a dominar a filosofia de Hegel inteiramente de então em diante. Conseguiu, com a intervenção de Goethe, ser nomeado professor extraordinário da universidade mas não era ainda popular e somente recebeu seu primeiro rendimento significativo um ano depois, em 1806.

Hegel gostou quando em 1806 Napoleão submeteu a Prússia, que ele considerava governada por uma burocracia corrupta.

Em 1807 publicou seu célebre livro: Phänomenologie des Geistes em que explica, para muito poucos entendedores, como a mente humana originou-se de uma mera consciência, passando por uma autoconsciência, razão, espírito e religião para alcançar o conhecimento absoluto.

Para melhorar seus recursos Hegel tornou-se editor do jornal Bamberger Zeitung (1907-1808) e depois ocupou a direção de um ginásio em Nürberg (1808-1816).

Em 1811 casou com Marie von Tucher, mais nova que ele 22 anos, de Nürberg com quem teve dois filhos Karl, que tornou-se um eminente historiador, e Immanuel, teólogo. Juntou-se à família Ludwig, filho natural que trouxe de Jena.

Em Nürberg em 1812 publicou Die objektive Logik, primeira parte do seu Wissenschaft der Logik (Ciência da Lógica) e em 1816 a segunda parte, Die Subjektive Logik. A repercussão de sua lógica motivou o convite para lecionar em Erlangen, Berlim e Heidelberg. Ele aceitou esta última. Para suas aulas em Heidelberg publicou em 1817 Encyklopädie der philosophischen Wissenschaften im Grundrisse (Enciclopédia das ciências filosóficas em resumo), que era na verdade a exposição de suas idéias.

Em 1818 Hegel aceitou o convite renovado para lecionar filosofia em Berlim, na cadeira vaga com a morte de Fichte. Lá sua influência sobre seus alunos foi imensa.

Quando Schopenhauer obteve um lugar na mesma Universidade, começou uma competição com Hegel pelos alunos que pagariam os seus salário. Os estudantes preferiam as aulas de Hegel. Schopenhauer conseguiu apenas uns poucos e teve que desistir, e a partir de então combateu implacavelmente Hegel Schelling e Fichte, chamando-os fanfarrões e charlatães, e atacou os professores de filosofia em geral no seu ensaio "Sobre a filosofia na universidade".

Em Berlim Hegel publicou seu Naturrecht und Staatswissenschaft im Grundrisse (Fundamentos do Direito natural e da Ciência política) também intitulado Grundlinien der Philosophie des Rechts ("Filosofia do Direito"), de 1821. Em 1830 Hegel tornou-se Reitor da universidade. A revolução deste ano quase o fez adoecer de medo do povo assumir o governo.

Após a publicação do "Filosofia do Direito", Hegel devotou-se quase exclusivamente a suas aulas (1823-1827). O que foi publicado desse período são principalmente notas dos seus estudantes. Versam principalmente três áreas: estética, filosofia da história e filosofia da religião.

Nos anos que precederam a revolução de 1830 houve um florescimento nas artes na Alemanha, e Hegel copiava notas dos jornais, o que lhe permitia fazer suas aulas sobre estética mais interessantes. Em suas aulas sobre filosofia da religião tentou mostrar que o credo dogmático é o desenvolvimento racional do que está implícito no sentimento religioso.

No verão de 1831 Hegel buscou refúgio nas vizinhanças da cidade, contra uma epidemia do cólera. Durante esse retiro terminou a revisão da primeira parte do "Ciência da Lógica". Porém, ao retornar para o período acadêmico do inverno, contraiu a doença e morreu a 14 de novembro daquele ano. Foi enterrado como pediu, ao lado de Fichte.


O Sentido do Espírito

Para conhecer bem os factos e enxergá-los no seu verdadeiro lugar, deve-se estar no cume - não os considerar de baixo pelo buraco da fechadura da moralidade ou de alguma outra sabedoria.
(...) O ponto de vista geral da história filosófica não é abstractamente geral, mas concreto e eminentemente actual, porque é o Espírito que permanece eternamente junto de si mesmo e ignora o passado. À semelhança de Mercúrio, o condutor das almas, a Ideia é na verdade o que conduz os povos e o mundo, e é o Espírito, a sua vontade razoável e necessária, que orientou e continua a orientar os acontecimentos do mundo.

Georg Hegel, in 'Curso de 1822'

Kant


Immanuel Kant, filósofo alemão, em geral considerado o pensador mais influente dos tempos modernos, nasceu em Königsberg, atual Kaliningrado, em 22 de abril de 1724. Não casou nem teve filhos, falecendo em 1804 aos 80 anos.

Kaliningrado, situa-se onde foi a Prússia Oriental, um território no litoral sul do Báltico, parte da Rússia desde 1946.

O território da Prússia foi adquirido à Polônia por Frederico Guilherme o Grande Eleitor de Brandenburgo de 1640 a 1688. Em 1701, Frederico III de Brandemburgo teve permissão de Leopoldo I, Imperador do Sacro Império Romano, para usar o título de Frederico I, rei da Prússia. Seu filho, Frederico Guilherme I (1713-1740), formou um exército bem equipado (o terceiro da Europa, depois da Rússia e da França) e levantou a economia do reino principalmente com a indústria de lã com que vestia o exército. Casou com Sofia Dorotéa, filha de George Luís, eleitor de Hanôver (O último dos três patronos a que Leibniz serviu em Hanôver), que veio a ser George I da Inglaterra. Frederico II, O Grande (1740-1786), sucessor de Frederico Guilherme, usou o poderoso exército da Prússia para tomar a grande e próspera província da Silésia à Áustria dos Habsburgo (1740), e sob seu reinado o filósofo viveu a maior parte de sua vida, toda ela vivida em Königsberg..

Kant era filho de um artesão que trabalhava couro e fabricava selas. Sua mãe, de origem alemã, embora não tivesse estudo, foi mulher admirada pelo seu caráter e pela sua inteligência natural. Ambos seus pais eram do ramo pietista da Igreja Luterana, uma subdenominação que requeria dos fieis vida simples e integral obediência à lei moral.

Estudos primários. A influência de seu pastor permitiu a Kant, o 4o. de 11 crianças, porém o mais velho sobrevivente, entrar na escola pietista onde estudou por oito anos e meio principalmente os clássicos latinos. Ele confessou a sua preferência de então pelo naturista Lucrécio, e talvez o tenha impressionado o livro IV do poema De rerum natura, onde Lucrécio descreve a mecânica dos sentidos e do pensamento.

Em 1740, aos dezesseis anos, Kant entrou para a universidade de Königsberg onde estudou até aos 21 anos. Apesar de ter assistido a cursos de teologia e até pregado alguns sermões, ele foi atraído mais pela matemática e a física. Ajudado por um jovem professor, Martin Knutzen, que havia estudado com Christian Wolff, um sistematizador da filosofia racionalista, e que também era um entusiasta da ciência de Sir Isaac Newton, ele começou a ler os trabalhos deste físico inglês e, em 1744, iniciou seu primeiro livro, o qual tratava de um problema relativo a forças cinéticas: "Ideias sobre a Maneira Verdadeira de Calcular as Forças Vivas".

Aos 21 anos – apesar de que a esta altura tivesse decidido a seguir uma carreira acadêmica –, com a morte de seu pai em 1746 e o seu fracasso em obter o posto de sub-tutor em uma das escolas ligadas à universidade, Kant se viu obrigado a desistir temporariamente de seu projeto e a buscar meios imediatos de se manter. Foi compelido a suspender os estudos universitários e ganhar a vida como tutor particular. Durante nove anos manteve essa ocupação, atividade em que foi bem sucedido e que lhe permitiu conviver com a sociedade mais influente e refinada de seu tempo. Serviu a três famílias diferentes, tendo nesse período viajado à cidade próxima de Arnsdorf. Em 1755 ele retornou a Königsberg e lá passou o restante de sua vida.

Retorno à universidade: Em 1755, ajudado pela bondade de um amigo, Kant pode completar seus estudos na universidade. Obteve seu doutorado e assumiu a posição de livre docente (Privatdozent, professor sem salário). Três dissertações que ele apresentou na habilitação a esse posto indicam o interesse e rumo de seu pensamento nessa época. Em uma, "Sobre o fogo", ele argumenta, muito ao jeito aristotélico, que os corpos agem uns sobre os outros através de uma matéria sutil e elástica uniformemente difusa que é a substância básica de ambos calor e luz.

A seguir, por 15 anos, ele ensinou na universidade, primeiro dando aulas de ciência e matemática, mas gradualmente ampliando seu campo de interesse a quase todos os ramos da filosofia. A Física newtoniana o impressionou, não apenas pelas suas implicações filosóficas quanto pelo seu conteúdo científico. Impressionou-o igualmente as asserções leibnizianas, as quais criticaria no futuro.

Sua fama como professor e escritor aumentou constantemente durante seus 15 anos como livre-docente. Cedo ele já lecionava sobre muitos assuntos além de física e matemática, incluindo lógica, metafísica, e filosofia moral. Até mesmo ensinou sobre fogos de artifício e fortificações e cada verão, por 30 anos, deu um curso popular sobre geografia física. Seu estilo, que diferia grandemente daquele de seus livros, era humorístico e vivo, vivificados por muitos exemplos de suas leituras em literatura inglesa e francesa, viagem e geografia, ciência e filosofia.

Apesar de que as aulas e os trabalhos escritos nesses 15 anos como livre-docente estabeleceram sua reputação como um filósofo original, ele não recebeu uma cadeira na universidade até 1770, quando foi feito professor de lógica e metafísica, uma posição que manteve até 1797, continuando nesses 27 anos a atrair grande número de estudantes para Königsberg.

Conflito com o governo. O ensino não ortodoxo de religião de Kant, que era baseado no racionalismo mais que na revelação, o colocaram em conflito com o governo da Prússia, e em 1792 ele foi proibido pelo rei Frederico Guilherme II de ensinar ou escrever sobre temas religiosos. Ele obedeceu essa ordem por cinco anos, até a morte do Rei e então sentiu-se liberado dessa proibição. Em 1798, o ano que se seguiu a sua aposentadoria da universidade, publicou um resumo de seus pontos de vista religiosos.

Sedentarismo. Apesar de que ele falhou duas vezes em obter uma cátedra em Konigsberg, Kant recusou aceitar ofertas que o teriam levado para fora, inclusive o professorado de literatura em Berlim, que lhe teria dado grande prestígio. Preferiu a paz de sua cidade natal para trabalhar e desenvolver seu pensamento. Sua filosofia crítica brevemente estava sendo ensinada em cada universidade de língua alemã importante, e os jovens afluíam a Königsberg como à Meca da Filosofia. Em alguns casos o governo prussiano até pagava- lhes as despesas. Kant passou a ser consultado como um oráculo em todo tipo de questão, inclusive em assuntos como a legalidade da vacinação.

Vida sistemática. As muitas homenagens não interromperam os hábitos regulares de Kant, que seguiu sempre sua rotina de trabalho e investigação filosófica sobre a vasta gama de tópicos que se pode ver da lista de seus trabalhos. Com pouco mais de 1,50 m de altura, com o peito deformado e sofrendo de saúde precária, Kant manteve através da sua vida um severo regime. Era um sistema cumprido com tal regularidade que as pessoas diziam poder acertar os relógios de acordo com sua caminhada diária ao longo da rua que depois recebeu o nome, em sua homenagem, de "Caminhada do Filósofo". Até que a idade o impediu, sabe-se que ele somente perdeu sua aparição regular na ocasião em que o "Emile", de Rousseau o fascinou tanto que, por vários dias, ele ficou em casa ocupado com sua leitura..

Morte. Após um declínio gradual que foi muito doloroso para seus amigos tanto quanto para ele próprio, Kant morreu em Königsberg em 12 de fevereiro de 1804. Suas últimas palavras foram "isto é bom".



''Não há garantias. Do ponto-de-vista do medo,ninguém é forte o suficiente. Do ponto-de-vista do amor,ninguém é necessário.''
( Frases e Pensamentos de Immanuel Kant)

Emile Durkheim


Fundador da sociologia, Durkheim combinou a pesquisa empírica com a teoria sociológica. Sua contribuição tornou-se ponto de partida do estudo de fenômenos sociológicos como a natureza das relações de trabalho, os aspectos sociais do suicídio e as religiões primitivas.

Émile Durkheim nasceu em Épinal, Vosges, em 15 de abril de 1858. Freqüentou a École Normale Supérieure em Paris e interessou-se por filosofia. Em 1887 assumiu em Bordéus a primeira cadeira de sociologia instituída na França. Em 1896, fundou o periódico L'Année Sociologique e, em 1902, passou a lecionar sociologia e educação na Sorbonne.

Quatro obras capitais. A abordagem com que Durkheim debruçou-se sobre a sociologia se anuncia nas obras De la division du travail social (1893; Da divisão do trabalho social) e Les Règles de la méthode sociologique (1895; As regras do método sociológico). Na primeira, analisa o problema da ordem num sistema social de individualismo econômico. Na segunda, define fato social e esquematiza a trama metodológica com que estudou os fenômenos sociais.

O fato social é experimentado pelo indivíduo como uma realidade independente que ele não criou e não pode rejeitar, como as regras morais, leis, costumes, rituais e práticas burocráticas oficiais, entre outras. Partindo da exterioridade dos fatos sociais, Durkheim abordou a sociedade como um fato sui generis e irredutível a outros, compreendendo-a como um conjunto de ideais constantemente alimentados pelos indivíduos que fazem parte dela. Dessa forma, conceituou a consciência coletiva como o "sistema das representações coletivas de uma dada sociedade". A linguagem, por exemplo, é uma representação coletiva, assim como os sistemas jurídicos e as obras de arte.

Na análise dos sistemas sociais, Durkheim introduziu os conceitos de solidariedade mecânica e orgânica, que o levaram à distinção dos principais tipos de grupos sociais. A solidariedade mecânica ocorre nas sociedades primitivas, nas quais os indivíduos diferem pouco entre si e partilham dos mesmos valores e sentimentos. A orgânica, presente nas sociedades mais complexas, se define pela divisão do trabalho.

O estudo das sociedades mais complexas levou Durkheim às idéias de normalidade e patologia sociais, a partir das quais introduziu o conceito de anomia, ou seja, ausência ou desintegração das normas sociais. Como as sociedades mais complexas se baseiam na diferenciação, é preciso que as tarefas individuais correspondam aos desejos e aptidões de cada um. Isso nem sempre acontece e a sociedade se vê ameaçada pela desintegração, pois os valores ficam enfraquecidos. A solução proposta por Durkheim são as formas cooperativistas de produção econômica.

Em Le Suicide (1897; O suicídio), tentou mostrar que as causas do auto-extermínio têm fundamento social e não individual. Descreveu três tipos de suicídio: o egoísta, em que o indivíduo se afasta dos seres humanos; o anômico, originário, por parte do suicida, da crença de que todo um mundo social, com seus valores, normas e regras, desmorona-se em torno de si; e o altruísta, por lealdade a uma causa.

Na última de suas quatro obras capitais, Les Formes élémentaires de la vie religieuse (1915; As formas elementares da vida religiosa), buscou mostrar as origens sociais e cerimoniais, bem como as bases da religião, sobretudo do totemismo na Austrália. Afirmou que não existem religiões falsas, que todas são essencialmente sociais. Émile Durkheim morreu em Paris em 15 de novembro de 1917.


''É preciso sentir a necessidade da experiência, da observação, ou seja, a necessidade de sair de nós próprios para aceder à escola das coisas, se as queremos conhecer e compreender.''

Émile Durkheim

Max Weber


Max Weber viveu no período em que as primeiras disputas sobre a metodologia das ciências sociais começavam a surgir na Europa, sobretudo em seu país, a Alemanha. Filho de uma família de classe média alta, com o pai advogado, Weber encontrou em sua casa uma atmosfera intelectualmente estimulante. Ainda era criança quando se mudaram para Berlim. Em 1882 foi para a Faculdade de Direito de Heidelberg. Um ano depois transferiu-se para Estrasburgo, onde prestou o serviço militar.

Em 1884 reiniciou os estudos universitários, em Göttingen e Berlim, dedicando-se as áreas de economia, história, filosofia e direito. Trabalhou na Universidade de Berlim como livre-docente, ao mesmo tempo em que era assessor do governo. Cinco anos depois, escreveu sua tese de doutoramento sobre a história das companhias de comércio durante a Idade Média. A seguir escreveu a tese "A História das Instituições Agrárias". Casou-se, em 1893, com Marianne Schnitger e, no ano seguinte, tornou-se professor de economia na Universidade de Freiburg, transferindo-se, em 1896, para a de Heidelberg.

Depois disso, passou por um período de perturbações nervosas que o levaram a deixar o trabalho. Só voltou à atividade em 1903, participando da direção de uma das mais destacadas publicações de ciências sociais da Alemanha. No ano seguinte publicou ensaios sobre a objetividade nas ciências sociais e a primeira parte de "A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo", que se tornaria sua obra mais conhecida e é de fato fundamental para a reflexão sociológica.

Em 1906 redigiu dois ensaios sobre a Rússia: "A Situação da Democracia Burguesa na Rússia" e "A Transição da Rússia para o Constitucionalismo de Fachada". No início da Primeira Guerra Mundial, Weber, no posto de capitão, foi encarregado de administrar nove hospitais em Heidelberg.

Quando a guerra terminou, mudou-se para Viena, onde deu o curso "Uma Crítica Positiva da Concepção Materialista da História". Em 1919 pronunciou conferências em Munique, publicadas sob o título de "História Econômica Geral". No ano seguinte faleceu em consequência de uma pneumonia aguda.




''O homem não teria alcançado o possível se, repetidas vezes, não tivesse tentado o impossível.''

Max Weber

Karl Max


Teórico do socialismo, Karl Marx estudou direito nas universidades de Bonn e Berlim, mas sempre demonstrou mais interesse pela história e pela filosofia. Quando tinha 24 anos, começou a trabalhar como jornalista em Colônia, assinando artigos social-democratas que provocaram uma grande irritação nas autoridades do país.

Integrante de um grupo de jovens que tinham afinidade com a teoria pregada por Hegel (Georg Wilhelm Friedrich - um dos mais importantes e influentes filósofos alemães do século 19), Marx começou a ter mais familiaridade dos problemas econômicos que afetavam as nações quando trabalhava como jornalista.

Após o casamento com uma amiga de infância (Jenny von Westphalen), foi morar em Paris, onde lançou os "Anais Franco-Alemães", órgão principal dos hegelianos de esquerda. Foi em Paris que Marx conheceu Friedrich Engels, com o qual manteve amizade por toda a vida.

Na capital francesa, a produção de Marx tomou um grande impulso. Nesta época, redigiu "Contribuição à crítica da filosofia do direito de Hegel". Depois, contra os adeptos da teoria hegeliana, escreveu, com Engels, "A Sagrada Família", "Ideologia alemã" (texto publicado após a sua morte).

Depois de Paris, Marx morou em Bruxelas. Na capital da Bélgica, o economista intensificou os contatos com operários e participou de organizações clandestinas. Em 1848, Marx e Engels publicaram o "Manifesto do Partido Comunista", o primeiro esboço da teoria revolucionária que, anos mais tarde, seria denominada marxista.

Neste trabalho, Marx e Engels apresentam os fundamentos de um movimento de luta contra o capitalismo e defendem a construção de uma sociedade sem classe e sem Estado. No mesmo ano, foi expulso da Bélgica e voltou a morar em Colônia, onde lançou a "Nova Gazeta Renana", jornal onde escreveu muitos artigos favoráveis aos operários.

Expulso da Alemanha, foi morar refugiado em Londres, onde viveu na miséria. Foi na capital inglesa que Karl Marx intensificou os seus estudos de economia e de história e passou a escrever artigos para jornais dos Estados Unidos sobre política exterior.

Em 1864, foi co-fundador da "Associação Internacional dos Operários", que mais tarde receberia o nome de 1ª Internacional. Três anos mais tarde, publica o primeiro volume de sua obra-prima, "O Capital".

Depois, enquanto continuava trabalhando no livro que o tornaria conhecido em todo o mundo, Karl Marx participou ativamente da definição dos programas de partidos operários alemães. O segundo e o terceiro volumes do livro foram publicados por seu amigo Engels em 1885 e 1894.

Desiludido com as mortes de sua mulher (1881) e de sua filha Jenny (1883), Karl Marx morreu no dia 14 de março de 1883. Foi então que Engels reuniu toda a documentação deixada por Marx para atualizar "O Capital".

Embora praticamente ignorado pelos estudiosos acadêmicos de sua época, Karl Marx é um dos pensadores que mais influenciaram a história da humanidade. O conjunto de suas idéias sociais, econômicas e políticas transformou as nações e criou blocos hegemônicos. Muitas de suas previsões ruíram com o tempo, mas o pensamento de Marx exerceu enorme influência sobre a história.




''Os filósofos limitaram-se a interpretar o mundo de diversas maneiras; o que importa é modificá-lo.''

Karl Marx

Fritjof Capra


Fritjof Capra (Áustria, 1939 - ) é um físico teórico e escritor que desenvolve trabalho na promoção da educação ecológica.

Capra recebeu, em 1966, seu doutorado em física teórica pela Universidade de Viena e tem dado palestras e escrito extensamente sobre as aplicações filosóficas da nova ciência. Atualmente vive com a esposa e a filha em Berkeley, Califórnia, onde é o diretor do centro de educação ecológica.

Capra tornou-se mundialmente famoso com seu O Tao da física, traduzido para vários idiomas. Nele, traça um paralelo entre a física moderna (relatividade, física quântica, física das partículas) e as filosofias e pensamentos orientais tradicionais, como o taoísta de Lao Tsé, o Budismo (incluindo o zen) e o Hinduismo. Surgido nos anos 70, O Tao da física busca os pontos comuns entre as abordagens oriental e ocidental da realidade. Recebido com enormes críticas pelo campo ortodoxo tanto da religião, quanto das ditas ciências atuais, as quais desprovaram das prospostas de Capra em seu livro.

Outro livro seu tornou-se referência para o pensamento sistêmico: O Ponto de Mutação, cujo nome foi extraído de um hexagrama do I Ching. Nele Capra compara o pensamento cartesiano, reducionista, modelo para o método científico desenvolvido nos últimos séculos, e o paradigma emergente do século XX, holista ou sistêmico (que vê o todo como indissociável, de modo que o estudo das partes não permite conhecer o funcionamento do organismo), em vários campos da cultura ocidental atual, como a medicina, a biologia, a psicologia e a economia.

Elomar

O Sr. Ernesto Santos Mello, filho de tradicional família de fazendeiros da Zona da Mata do Itambé e da região do Mata - de - Cipó de Vitória da Conquista, casou-se com D. Eurides Gusmão Figueira Mello, de ascendência hebraica (cristão novo da linhagem Figueira e Azeitum). Por dificuldades econômicas ou mesmo por costume da época, quiçá, habitaram nos primeiros tempos a velha casa da Fazenda Boa Vista, propriedade de seus avós Virgílio Figueira e D. Maricota Gusmão Figueira. Ali, naquela velha casa, onde pousaram levas e levas de retirantes flagelados das grandes secas cíclicas do sertão nordestino, aos 21 de dezembro de 1937, nasceu Elomar Figueira Mello, primogênito do jovem casal .

Aos três anos de idade, em face da fragilidade da saúde do menino, seus pais alugaram, na cidade de Vitória da Conquista, uma pequena casa numa rua chamada Nova. Enquanto seu pai se ausentava por longos períodos na lida de tanger boiadas, D. Eurides, ao som da velha máquina de costura, ganhava o pão, ao tempo em que embalava o frágil menino. Aos sete anos de idade, seus pais deixaram definitivamente a vida urbana, transferindo-se para o campo, onde Elomar com seus irmãos Dima e Neide, perpassou toda infância pelo São Joaquim, Brejo, Coatis de Tio Vivaldo e Palmeira de Tio Kelé. No São Joaquim, berço da 2" infância, cursou parte do primário escolar, completando este e o ginasial na cidade no ano de 1953.

No ano seguinte, a contragosto seu, deixa o curral, o roçado e os folguedos da vida pastoril, para ir cursar o científico no Palácio do Conde dos Arcos em Salvador. Em 1956, interrompe o curso e volta à terra natal para servir ao exército, passando a morar com sua avó paterna na mesma fazenda, vizinho bem próximo da velha casa onde nasceu. A partir dos dezoito anos, a casa de mãe Neném, sua avó, será sua morada toda vez que voltar de férias da capital, embora visite constantemente sua avó Maricota na cidade e seus pais no São Joaquim. Esta preferência de habitação deve-se ao fato único de mãe Neném, em sendo católica apostólica, ter sido mais tolerante com o tipo de vida do moço poeta, de perfil boêmio. Em 1957, novamente em Salvador, conclui o científico. Em 1958, perde o .vestibular de geologia, face o já grande enredamento com a música nos meios intelectuais dali. Em 1959, faz o vestibular para arquitetura. Conclui o curso em 1964, após o que, incontinenti, regressa de modo decidido e definitivo ao Sertão para, tendo a arquitetura como suporte econômico mínimo, escrever sua obra.

A música e a poesia essencial, com a força de seus encantamentos, despertaram o compositor numa idade muito tenra, e o poeta, um pouco mais tarde. Aos sete anos, no São Joaquim, os primeiros contatos inevitáveis com a música profana de menestréis errantes, como Zé Krau, Zé Guelê e Zé Serradô, tem maior importância, destacando-se o primeiro pela forma esdrúxula de suas parcelas ou pelas narrativas épicas amargas que já despertavam profundos sentimentos na alma do embrionário compositor.

É bom assinalar que até então só tinha ouvido a música eclesiástica do hinário cristão, do culto batista evangélico, fé única de sua família da parte de sua mãe.

Assim que ouviu os primeiros acordes de viola, violão e sanfona e as primeiras estrofes das tiranas dos côcos e parcelas dos três Zés, têm início as primeiras fugidas de casa, pelas bocas-de-noite, não só para ouvir como também, por excelência, para aprender os primeiros tons no braço do violão, o qual será, a partir dali, seu instrumento definitivo. Note-se bem que estas proezas davam-se às voltas e muito às escondidas, pois que não só para seus pais e parentes, como também para toda sociedade de então, labutar com música era coisa para vagabundo. Tocador de violão, viola ou sanfona, era sinônimo de irresponsável. As primeiras composições datam dos onze anos. Já a partir dos sete , oito anos quando vinha à cidade, toda noite ia à casa do Tio Flávio ouvir no rádio uma música estranha executada com instrumentos estranhos diferentes do violão , viola , sanfona etc... Música esta que mal começava logo, terminava. Anos mais tarde ao chegar a capital descobre que aquela música era a protofonia de “O Guarani” e quando mortificado também descobre escrita musical, a partìtura e o que mais lhe causou espanto: a existência de milhares de músicas, escritas por milhares de compositores que viveram a partir de centenas de anos passados.

Aos 17 anos, já lê bem e mal escreve. Começa, então, nesta idade propriamente as composições literárias e musicais numa seqüência interminável, mas sem ainda ter uma linha definida. Destas Calendas são: Calundu e Kacorê, Prelúdio nº Sexto, Samba do Jurema, logo após, Mulher Imaginária, Canção da Catingueira e abertura de O Retirante. Em 1959-1960, começam a lhe chegar idéias de trabalhos maiores em envergadura e vai compondo aleatoriamente o ciclo das canções. Contudo, sempre preso à mesma temática, as vicissitudes do homem, seus sofrimentos, suas alegrias na terrível travessia que é a sua vida e, sobretudo, seu relacionamento com o Criador. Isto, é claro, a partir do seu elemento circunstancial, o Sertão, sua pátria. Verdadeiramente, onde vive.

Em 1966, já arquiteto e morando no sertão, casa-se com Adalmária, doutora em Direito, e filha da capital, contudo de orígem "sertaneza", da qual nascem Rosa Duprado, João Ernesto e João Omar. Enquanto muito trabalha à arquitetura menos vai compondo, sonhando com certa estabilidade econômica (que nunca chegou) para dedicar-se integralmente à música. João Omar, Maestro e Compositor, acompanha o pai desde os nove anos de idade.

Em 1969, sela o caderno da sua primeira ópera, o "Auto do Catingueira", mais tarde, parcialmente partiturada, face o caráter popular da obra. Durante a década de 70, projetou muito da arquitetura e um pouco mais na música. No começo dos anos 80 inicia a carreira de peregrino menestrel, de viola na mão, errante, de palco em palco pelos teatros do país, conquistando uma pequena platéia composta de poetas, músicos, compositores e de intelectuais de linhagem pura, sem modernosas e, por fim, de simples pessoas do povo, atraídas mais pela linguagem dialetal, a temática sertânica e as melodias fora de moda e (segundo Dr. Raimundo Cunha) indançáveis.

A partir daí, quando já abandonando a profissão liberal e em firmando-se mais fundamente na composição, compõe a Fantasia leiga para um Rio Seco, confiando a escrita orquestral a seu amigo e patrício de sertão Maestro Lindembergue Cardoso, por ainda ser ananota em escrita para orquestra. Em 1983, por ocasião da gravação do Auto da Caatingueira, na Casa dos Carneiros, fazenda onde mora desde 1980, faz sua primeira incursão no universo orquestral, quando partitura a abertura do Auto da Caatingueira para violão, flauta e violoncelo.

A partir de 1984, ainda na fase das canções, começa a esboçar a seqüência das óperas e das antífonas. É quando escreve as antífonas: I - Loas para o justo - para barítono e quarteto misto; II - Balada do Filho Pródigo - para tenor, coro e orquestra; a IV - Meditações a partir de Romanos VII - para coro e orquestra. Em 1993, a XI - Alfa - para violão e orquestra, ou seja, um concerto para violão e orquestra.

As antífonas de números VI, VII, VIII, IX, X, XI Beta e XI Delta estão praticamente compostas, faltando apenas irem para a partitura. Por outro lado e paralelamente às antífonas, a partir de 84, começa também mais propositadamente a fase das óperas, porquanto já estão em partitura. A Carta, ópera em quatro cenas, O Prólogo de O Retirante, ópera em dois atos. As outras óperas, Faviela, O Peão Mansador, A Casa das Bonecas, Os Poetas são Loucos, mas Conversam com Deus, De Nossas Vidas Vaporosas "ensaios", Os Lanceiros Negros e os Pobres, os Miseráveis e os Desvalidos, já estão quase todas compostas, faltando tão somente serem partituradas.

Ainda em paralelo vem a série dos Galopes Estradeiros, que trata de sinfonias compactas. Desta já se encontra em partitura o primeiro Galope Estradeiro. O segundo, o terceiro e o quarto já estão mais do que esboçados.

Quando deixou a fazenda, a vida na capital lhe foi muito severa. Tanto nos tempos de estudante interno como durante os anos de faculdade, onde nas casas-de-pensão que habitara mal conseguia lugar nos porões, junto a ratos e aranhas. O normal era ir dormir com fome. O pouquinho dinheiro que sua mãe lhe mandava gastava com aulas, cordas de violão, e compras de partituras e livros, o que era escasso e muito caro naquela época.

Numa certa feita, pelos idos dos anos de 1960, durante um rigoroso inverno, quase morre entrevado e à míngua num frio porão de uma casa-de-pensão na Avenida Sete, onde foi valido, abaixo de Deus, por uma estudante de enfermagem, mineira, que lhe dava o alimento de colher na boca, por impossibilidade de movimentar pernas, braços e pescoço gravemente atacados por inesperado reumatismo poli-articular agudo. Lurdinha era seu nome.

Nestas circunstâncias foi forjado o cantor dos "Retirantes", o poeta de "Os Pobres, os Miseráveis e os Desvalidos".

O ano que passou em sua terra natal, a serviço da pátria, foi de grande importância em sua formação musical, pois que na convivência de primos, de amigos, poetas e cantores, livre de maiores responsabilidades com os estudos, conheceu de perto a música nacional urbana, a seresta, o samba e o tango argentino. São seus contemporâneos deste gosto: Camilo de Jesus Lima, Euríclides Formiga, Chagas, o seu tão querido tio Valter, brilhante cantor, junto a mais de meia centena de primos e amigos mais ou menos da mesma idade, os quais durante o dia estudavam ou lidavam nas fazendas circunvizinhas. Nas noites, era o declamar Cecéu, recitar Kayan, Lamartine, Rabelo da Silva, Camões e violões e serestas nestas marés, muitas e tantas vezes tentava mostrar suas composições... - "Para, para, para" gritavam. É que sua música nova doía nos ouvidos d'antanho.

Durante o dia, passava roupa a ferro com os seus primos Mouvê e Lupen e o Seu irmão Dima, com o fim de ajudar sua vó "mãe" Neném fazer a feira. Era de extrema simplicidade a casa da vó, que, sempre rastreada pela pobreza, vivia unicamente de aluguéis do pequeno mangueiro onde morava. Durante a semana, e mais nas sextas e sábados, ali na Boa Vista, pousavam tropeìros e viajantes que vinham para as feiras ou passavam pela cidade. Não havia luz elétrica, nem água encanada. Elomar compunha à luz de fifó.

Estas lembranças, estas marcas vivas de todo um passado amargo e alegre, vão permear sua obra por todo o percurso; desde as parcelas e tiranas dos primeiros tempos até as óperas e galopes dos últimos dias.

Atualmente, Figueira Mello já um pouco mais adiantado na estrada, aos seus 63 anos de idade, continua compondo intensamente, varando os dias e as noites sem descanso. No seu labutar, confessa que tem de escrever sem perda de tempo, pois que a obra é imensa e o tempo já declina pela tarde. Já deixou a Casa dos Carneiros, na Gameleira, onde demorou por um bom tempo de sua vida e donde saiu o grosso do ciclo das canções. Ali de volta, pretende concluir sua obra bem longe, bem distante dos mundos urbanos, pois que não só sua obra, como também sua própria pessoa, não é outra coisa senão antagônicos dissidentes irrecuperáveis de sua contemporaneidade tendo em vista sua formação estritamente clássica e regionalista. Daqui leu todos os poetas, escritores e profetas hebreus; leu os mélicos e os clássicos gregos; os latinos, incluindo Esopo e o Fedro; os italianos, franceses, ingleses, espanhóis, russos e, por último, os alemães, tendo, é claro, antes disto perpassado pelos essenciais patrícios.

A partir dos dezessete, já enveredava-se pelas novelas de cavalaria em leituras longas e sonhadoras. Bate-se frontalmente com a chamada arte contemporânea. Horror à dita cultura ( que segundo ele é um DX, salvo o bom cinema) estatudinese da América do Norte, o que lhe traz à lembrança palavras de antigas profecias "sertanezas", que sentenciaram: "que haverá de chegar um tempo de baixar os muros e levantar os munturos - vivemos o tempo do culto às nulidades. São os minimalismos que estão chegando....", clama o compositor.

Assim, para Figueira Mello o que importa é concluir suas óperas, antífonas e galopes, pôr tudo em partituras a nanquim e enfardados em campa antiga, guardar o monobloco passageiro do tempo até a estação futura, bem-vinda quadra remota, onde o aguarda uma geração que, por justiça, haverá por certo de ouvir e amar sua música tão fora de moda nestes dias. Ó Tempora! Ó Mores!

Ariano Suassuna


Ariano Vilar Suassuna, advogado, professor, teatrólogo e romancista, desde 1990 ocupa a cadeira número 32 da Academia Brasileira de Letras, cujo patrono é Araújo Porto Alegre, o Barão de Santo Ângelo (1806-1879).

Filho de João Suassuna e de Rita de Cássia Villar, Ariano estava com um pouco mais de três anos quando seu pai, que havia governado o Estado no período de 1924 a 1928, foi assassinado no Rio de Janeiro, em conseqüência da luta política às vésperas da Revolução de 1930.

No mesmo ano, sua mãe se transferiu com os nove filhos para Taperoá, onde Ariano Suassuna fez os estudos primários. No sertão paraibano Ariano se familiarizou com os temas e as formas de expressão que mais tarde vieram a povoar a sua obra.

Em 1942, a família se mudou para Recife e os primeiros textos de Ariano foram publicados nos jornais da cidade, enquanto ele ainda fazia os estudos pré-universitários. Em 1946 Ariano iniciou a Faculdade de Direito e se ligou ao grupo de jovens escritores e artistas que tinha à frente Hermilo Borba Filho, com o qual fundou o Teatro do Estudante Pernambucano. No ano seguinte, Ariano escreveu sua primeira peça, "Uma Mulher Vestida de Sol", e com ela ganhou o prêmio Nicolau Carlos Magno.

Após formar-se na Faculdade de Direito, em 1950, passou a dedicar-se também à advocacia. Mudou-se de novo para Taperoá, onde escreveu e montou a peça "Torturas de um Coração", em 1951. No ano seguinte, voltou a morar em Recife. O Auto da Compadecida (1955), encenado em 1957 pelo Teatro Adolescente do Recife, conquistou a medalha de ouro da Associação Brasileira de Críticos Teatrais. A peça o projetou não só no país como foi traduzida e representada em nove idiomas, além de ser adaptada com enorme sucesso para o cinema.

No dia 19 de janeiro de 1957, Ariano se casou com Zélia de Andrade Lima, com a qual teve seis filhos. Foi membro fundador do Conselho Federal de Cultura, do qual fez parte de 1967 a 1973 e do Conselho Estadual de Cultura de Pernambuco, no período de 1968 a 1972.

Em 1969 foi nomeado Diretor do Departamento de Extensão Cultural da Universidade Federal de Pernambuco - UFPE, ficando no cargo até 1974.

Ariano estava sempre interessado no desenvolvimento e no conhecimento das formas de expressão populares tradicionais e, no dia 18 de outubro de 1970, lançou o Movimento Armorial, com o concerto "Três Séculos de Música Nordestina: do Barroco ao Armorial", na Igreja de São Pedro dos Clérigos e uma exposição de gravura, pintura e escultura.

O escritor também foi Secretário de Educação e Cultura do Recife de 1975 a 1978. Doutorou-se em História pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1976 e foi professor da UFPE por mais de 30 anos, onde ensinou Estética e Teoria do Teatro, Literatura Brasileira e História da Cultura Brasileira.

Seu "Romance da Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai e Volta" publicado originalmente em 1971 teve a primeira edição. Relançado somente em 2005 teve sua segunda edição esgotada em menos de um mês, o que é uma coisa rara para um volume de quase 800 páginas.


O Mundo do Sertão
(com tema do nosso armorial)


Diante de mim, as malhas amarelas
do mundo, Onça castanha e destemida.
No campo rubro, a Asma azul da vida
à cruz do Azul, o Mal se desmantela.

Mas a Prata sem sol destas moedas
perturba a Cruz e as Rosas mal perdidas;
e a Marca negra esquerda inesquecida
corta a Prata das folhas e fivelas.

E enquanto o Fogo clama a Pedra rija,
que até o fim, serei desnorteado,
que até no Pardo o cego desespera,

o Cavalo castanho, na cornija,
tenha alçar-se, nas asas, ao Sagrado,
ladrando entre as Esfinges e a Pantera.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Pierre Weill


Pierre Weil, nascido em 16 de abril de 1924, em Strasbourg, teve contato, desde a sua infância com conflitos religiosos em sua família, constituída de três religiões, como também conflitos e guerras entre a França e Alemanha por causa do fato de ser ele alsaciano. Esses conflitos contribuíram para que Pierre Weil se tornasse um amante da Paz.

Em sua autobiografia publicada no Brasil sob o título de "A Revolução Silenciosa", ele nos conta como ele progressivamente se dedicou à Paz e, mais especificamente, à Educação para a Paz. Aos oito anos de idade ele se diverte com primos, ao criar a associação católica dos judeus protestantes. Aos quatorze anos ele escreve, no seu diário: "Minha pátria é principalmente a Terra". Com a mesma idade, em plena guerra mundial, ele propõe a "idéia de eliminar as fronteiras, de criar a Europa com uma moeda única; os adultos a quem ele se dirige recebem suas idéias com um ceticismo divertido. Por ocasião da derrota, ele organiza um centro de recepção com cantina, para os refugiados.

Sua consciência de jovem francês, leva-o, aos 17 anos, a se engajar na "maquis", para dar a sua contribuição à expulsão do nazismo. Convidado a escolher uma das metralhadoras que lhe foram oferecidas, de toda a sua alma ele refuta a idéia de matar, recusa-se a se armar, e propõe a sua participação com enfermeiro. Ele descobre, assim, sua natureza não violenta, antes mesmo de ter tido contato com Ghandi. Certo dia, enquanto os seus companheiros preparavam-se para explodir uma ponte ferroviária, ao passear sobre os trilhos, ele se imagina como organizador de uma escola futura dotada de todos os métodos modernos de educação, a serviço da Paz.

A partir dessa época, pode-se afirmar que o destino, para não dizer a missão de Pierre Weil, fica delineada de uma forma clara e precisa.



A ave holística: Ave, Pierre, Evoé.

Voa, vovô, voa
Vai, Pierre, Weill
Singra no ar com tuas asas alvas
adeja no mar como uma pomba náufraga

arrebenta sereno na beira do cais.

Pra sempre a lembrança:
A maturidade encanecida nos cabelos comprova
A vivacidade e a candura de um belo rapaz
Na maternidade estelar renasce como uma supernova
Vá Pierre,
em paz!

Lelê Teles, Brasília
Fundador da Universidade Internacional da Paz (Unipaz), o psicólogo e educador francês Pierre Weil, 84 anos, morreu na noite de 10 de Outubro em Brasília. Em 1994 eu estudei na Universidade Holística Internacional (Unipaz), e como foi delicioso, como foi prazeroso aprender com esse grande mestre.

Vital Farias


No dia 23 de janeiro de 1943, em Taperoá (PB), nascia Vital Farias, caçula de 14 irmãos. Foi alfabetizado com as irmãs através da Literatura de Cordel. Aos 18 anos, apesar da tradição musical da família, começou a estudar violão sozinho. Nessa época, foi para João Pessoa para servir ao Exército. Participou de diversos conjuntos musicais, entre os quais "Os quatro loucos", que apresentava imitações de músicas do conjunto de rock inglês "The Beatles". Pouco depois passou a dar aula de violão e teoria musical no Conservatório de Música de João Pessoa. Em 1975 mudou-se para o Rio de Janeiro, e no ano seguinte foi aprovado no vestibular para a Faculdade de Música.

No Rio de Janeiro começou a participar de shows e outros eventos artísticos, como a peça “Gota d’água” (1976), de Chico Buarque de Hollanda, atuando como músico. Sua primeira composição gravada foi "Ê mãe", em parceria com Livardo Alves e gravada por Ari Toledo. Em 1978 gravou o seu primeiro disco. Dois anos depois saía “Taperoá”, seu segundo disco. Em 1982 lançou o LP "Sagas brasileiras". Em 1984 lançou, pela Kuarup, o CD Cantoria I, com Elomar, Geraldo Azevedo e Xangai. Em 1985 lançou o LP "Do jeito natural", uma coletânea com seus maiores sucessos. No mesmo ano participou do álbum Cantoria II, com os mesmos integrantes do CD anterior. Depois disso resolveu parar de gravar por um tempo e passou a se dedicar aos estudos. Suas composições destacam-se pelo humor e inventividade, onde se mesclam canções nordestinas, sambas de breque, modinhas, xaxados e outros ritmos.

Em 2002 produziu o disco de estréia de sua filha e cantora Giovanna, no qual estão presentes 15 composições de sua autoria. O disco foi lançado pelo selo Discos Vital Farias. No mesmo ano lançou o disco "Vital Farias ao vivo e aos mortos vivos". Recebeu, ainda no mesmo período, o título de Cidadão do Rio de Janeiro.



Saga da Amazônia

(Vital Farias)

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Era uma vez na Amazônia a mais bonita floresta
mata verde, céu azul, a mais imensa floresta
no fundo d'água as Iaras, caboclo lendas e mágoas
e os rios puxando as águas

Papagaios, periquitos, cuidavam de suas cores
os peixes singrando os rios, curumins cheios de amores
sorria o jurupari, uirapuru, seu porvir
era: fauna, flora, frutos e flores

Toda mata tem caipora para a mata vigiar
veio caipora de fora para a mata definhar
e trouxe dragão-de-ferro, prá comer muita madeira
e trouxe em estilo gigante, prá acabar com a capoeira

Fizeram logo o projeto sem ninguém testemunhar
prá o dragão cortar madeira e toda mata derrubar:
se a floresta meu amigo, tivesse pé prá andar
eu garanto, meu amigo, com o perigo não tinha ficado lá

O que se corta em segundos gasta tempo prá vingar
e o fruto que dá no cacho prá gente se alimentar?
depois tem o passarinho, tem o ninho, tem o ar
igarapé, rio abaixo, tem riacho e esse rio que é um mar

Mas o dragão continua a floresta devorar
e quem habita essa mata, prá onde vai se mudar???
corre índio, seringueiro, preguiça, tamanduá
tartaruga: pé ligeiro, corre-corre tribo dos Kamaiura

No lugar que havia mata, hoje há perseguição
grileiro mata posseiro só prá lhe roubar seu chão
castanheiro, seringueiro já viraram até peão
afora os que já morreram como ave-de-arribação
Zé de Nata tá de prova, naquele lugar tem cova
gente enterrada no chão:

Pos mataram índio que matou grileiro que matou posseiro
disse um castanheiro para um seringueiro que um estrangeiro
roubou seu lugar

Foi então que um violeiro chegando na região
ficou tão penalizado que escreveu essa canção
e talvez, desesperado com tanta devastação
pegou a primeira estrada, sem rumo, sem direção
com os olhos cheios de água, sumiu levando essa mágoa
dentro do seu coração

Aqui termina essa história para gente de valor
prá gente que tem memória, muita crença, muito amor
prá defender o que ainda resta, sem rodeio, sem aresta
era uma vez uma floresta na Linha do Equador...